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Um bloge...heterogeneo, que pretende fazer uma reflexão, sobre os reais motivos da Rainha ir nua... A Rainha de vizela, para que se saiba.

terça-feira, maio 2


Caciquismo e Fraternidade

É curiosa a forma como funciona o nosso cérebro, esse bicho estranho alimenta-se de palavras para formar as imagens; os conceitos, a cor com que pintamos a realidade. Precisamos da palavra, como o pincel precisa da tinta para se fazer sentir na tela, as palavras a latejar na nossa psique, são a tinta do pincel que é a nossa imaginação, e que nos traça a forma das coisas que imergem do nosso pensamento. O conteúdo pode estar lá, mas sem a forma da palavra, o pensamento não atinge o seu significado total.
Pressupõem-se assim que um cérebro com um vocabulário mais reduzido, não será um cérebro estúpido, mas certamente será um pincel com dificuldades em se fazer sentir na tela da vida, o conteúdo estará lá, mas certamente sempre com traços grosseiros, em imagens mais abstractas, o que por si só não me concerne preocupação, gosto do abstraccionismo, gosto das pessoas simples.

A língua portuguesa é rica em palavras, é um família grande, cujos parentes não morrem, acumulam-se em anos de história.
São irmãos na forma de sinónimos, adjectivos que não deixam nada ao indescritível, paradoxos para as dicotomias da vida sobe a forma de antónimos, enfim…um sem fim de palavras!

Não me surpreende portanto, que todos os dias eu aprenda uma palavra nova, cujo o significado é similar a outra que eu já conhecia, contudo é a palavra mais exacta para um qualquer conceito mental que já na minha cabeça pairava, mas não tinha a tinta necessária para se fazer colorir na forma de pensamento concreto.

O caciquismo, a palavra já conhecia, nunca tinha pensado bem no seu significado, sabia que se relacionava com o acto dos padrinhos presentearem os seus afilhados com dádivas, coisa que remonta já ao império romano.
Ouvi também pela boca de pessoas mais antigas, que o caciquismo era também o que apelidava o que os representantes do partido facínola a nível regional, faziam aquando das pseudo-eleiçoes realizadas nos anos 60 em Portugal, ao andarem de porta em porta a entregar bacalhaus e garrafas e garrafas de vinho, numa compra directa de votos …Uma velha forma de apadrinhar também.

Apesar de eu já conceber esta ideia, como o acto de dar, ainda não conseguia perceber, onde se poderia inserir o caciquismo, que nos discursos de esquerda, representa a pedra angular de uma democracia dissimulada.
Parei então para pensar, ele deve estar algures, afinal o acto de dar ao próxima, constitui uma das mais fraternas formas de solidariedade que se institucionalizou no nosso século, não obstante os presentes envenenados e com intenção de retroactivos, a cavalo dado não se olha o dente, já se diz.

Comecei a reparar nas formas subtis que o acto de dar ao próximo, ou não tão próximo assim, assumiu nos últimos tempos, subtilezas que podem não ser reconhecidas com operações mentais macroscópicas. Digo mais, fiquei enternecido com tanta dádiva fraterna que se revelou á minha frente.
Ele desdobra-se em benesses institucionais, na forma de subsídios, de buracos tapados, de emprego desqualificado em quadros técnicos carentes de know-how, medalhas de reconhecimento oportuno. Uma distribuição, que se aparentemente se figurava aleatória, revela-se me agora cada vez mais cirúrgica e providencial para o bom funcionamento de uma democracia dissimulada.

O caciquismo é um animal atemporal, que se veste sobe as vestes mais incolores que se podem imaginar, que respira e se alimenta nos interstícios mais recônditos do poder.

Apraz me muito, como podem imaginar, que o acto de dar, sejam presentes envenenados, ou com intenção de retroactivos, pois, (A cavalo dado não se olha o dente), ainda seja o eco de uma sociedade caracteristicamente fraterna.

1 Comments:

Blogger Inês Dias de Carvalho said...

dar ou seduzir? ou estarão as duas palavras interligadas (no contexto do teu texto) dando o tal caciquismo que nos discursos de esquerda aparece! sabes que dar sem sedução não tem resultados...

Mas eu cá dou e seduzo sem te "cacicar", oh meu pensador-crítico-analista lusitano e, acima de tudo, vizelense!

Gosto muito de te ler, escreve mais, escreve muito mais, até a tela ficar cheia de tintas e cores diferentes...!

07 maio, 2006  

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