rainhavainua

Um bloge...heterogeneo, que pretende fazer uma reflexão, sobre os reais motivos da Rainha ir nua... A Rainha de vizela, para que se saiba.

terça-feira, maio 9


Feira do livro e dos nossos Mortos

Combina de forma sublime, uma feira do livro naquele espaço de árvores frondosas, onde o lento desfilar do rio emite um ruído quase terapêutico para a alma, o parque das termas. Ou não fossem os livros e a natureza dois espaços de contemplação tão próximos da alma humana.
Hoje contemplei, fiz o prazeroso esforço de me deslocar á feira do livro de Vizela, deambulei entre livros e árvores, espreitando curioso, trechos de autores uns mais familiares do que outros, espreitando não tão curioso, o preço dos livros. Enalteço a iniciativa de fazerem um desconto de 20% sobre o preço de capa dos livros, o que confere uma certa lógica ao conceito de Feira do Livro, distinguindo-a de uma qualquer livraria.
Comprei dois livros, uns pedaços de folhas presas com poesia do injustamente não galardoado com o Nobel, Miguel Torga, por 2.50 euros, uma pechincha no meu parco orçamento. Comprei um outro, uma adaptação da obra Don Giovanni, ópera de Mozart, feita pelo José Saramago. Curiosamente ouvi um trecho dessa ópera ontem á noite no Rivoli, numa iniciativa da queima das fitas, Desconhecia-a até então.
Livros comprados, procurei um espaço para me sentar por entre os plátanos do parque. Comecei a remexer umas páginas de um livro, O Dicionário Geográfico de Portugal, de Pinho leal, parte V-X-Y-Z, uma edição de cerca de 189?, não consigo precisar a data, por via de umas páginas arrancadas, um pouco por todo o livro, por alguns inergrumes, ou alegadamente como me foi dito, por um súbito desarranjo intestinal.
Acontece que, entre as páginas arrancadas, algumas situavam-se exactamente nas letras VIZ, onde se faz referencia a Vizela, felizmente, não arrancaram as referencias todas, mas pode-se dizer mesmo assim que uma parte de Vizela do Dicionário Geográfico de José Pinho, serviu a Higiene fecal de alguém, sempre prestável a outrora Vila.
Viagem no tempo, posso dizer com toda a certeza, que desafiei as leis mais elementares da física, e me transportei para a Vizela Oitocentista, onde Pinho Leal descreve de forma sublime o retrato económico, industrial da Vizela da época, onde discrimina hotéis, pelos nomes, hábitos das pessoas, o tortuoso caminho da formação da Companhia das termas, até nomeia o autor do frondoso parque onde se realiza a feira do Livro, o Horticultor Portuense Marques Loureiro.
Enfim, uma fugaz passagem pela Vizela do fim do século XIX, cheia de intensidade, magia, onde relembrei todo o património histórico que esta cidade possui, á espera de ser descoberto, mas que infelizmente respira um mofo intragável, na memória colectiva de quase todos os Vizelenses.
A feira do livro tem pouca afluência, os interstícios da nossa história também, palpita-me que enquanto as pessoas não contemplarem os plátanos que acolhem a Feira do Livro de Vizela, eles onde continuar a ser misteriosos e mágicos interstícios.
Palpita-me que os nossos mortos ilustres têm o segredo de uma possível revitalização económica do nosso concelho, talvez por via de muitos curiosos, que como eu, não se importariam de deixar cá o seu capital, em troca dos segredos da nossa história.
Palpita-me…
Assustam-me mais os vivos desta terra, do que os mortos.