rainhavainua

Um bloge...heterogeneo, que pretende fazer uma reflexão, sobre os reais motivos da Rainha ir nua... A Rainha de vizela, para que se saiba.

terça-feira, maio 30

Tempo dilacerante

Viajo, numa corrida
que viaja num tempo,
Que controla a viagem.
O jogo Está viciado!
Por favor parem o comboio
ele nunca chegará a tempo,
de eu terminar a minha viagem.


Tempo unidireccional,
Viagem atroz…
E quem fica?
Não mais o apanha?
Quem tem o monopólio do tempo?
Será que reconsidera..?
À, este mercado único, retalha-te…
Retrata-te.

Vi tristeza nos olhos de um velho,
que já sabia a resposta ao perguntar:
Este era o último comboio?

terça-feira, maio 9


Feira do livro e dos nossos Mortos

Combina de forma sublime, uma feira do livro naquele espaço de árvores frondosas, onde o lento desfilar do rio emite um ruído quase terapêutico para a alma, o parque das termas. Ou não fossem os livros e a natureza dois espaços de contemplação tão próximos da alma humana.
Hoje contemplei, fiz o prazeroso esforço de me deslocar á feira do livro de Vizela, deambulei entre livros e árvores, espreitando curioso, trechos de autores uns mais familiares do que outros, espreitando não tão curioso, o preço dos livros. Enalteço a iniciativa de fazerem um desconto de 20% sobre o preço de capa dos livros, o que confere uma certa lógica ao conceito de Feira do Livro, distinguindo-a de uma qualquer livraria.
Comprei dois livros, uns pedaços de folhas presas com poesia do injustamente não galardoado com o Nobel, Miguel Torga, por 2.50 euros, uma pechincha no meu parco orçamento. Comprei um outro, uma adaptação da obra Don Giovanni, ópera de Mozart, feita pelo José Saramago. Curiosamente ouvi um trecho dessa ópera ontem á noite no Rivoli, numa iniciativa da queima das fitas, Desconhecia-a até então.
Livros comprados, procurei um espaço para me sentar por entre os plátanos do parque. Comecei a remexer umas páginas de um livro, O Dicionário Geográfico de Portugal, de Pinho leal, parte V-X-Y-Z, uma edição de cerca de 189?, não consigo precisar a data, por via de umas páginas arrancadas, um pouco por todo o livro, por alguns inergrumes, ou alegadamente como me foi dito, por um súbito desarranjo intestinal.
Acontece que, entre as páginas arrancadas, algumas situavam-se exactamente nas letras VIZ, onde se faz referencia a Vizela, felizmente, não arrancaram as referencias todas, mas pode-se dizer mesmo assim que uma parte de Vizela do Dicionário Geográfico de José Pinho, serviu a Higiene fecal de alguém, sempre prestável a outrora Vila.
Viagem no tempo, posso dizer com toda a certeza, que desafiei as leis mais elementares da física, e me transportei para a Vizela Oitocentista, onde Pinho Leal descreve de forma sublime o retrato económico, industrial da Vizela da época, onde discrimina hotéis, pelos nomes, hábitos das pessoas, o tortuoso caminho da formação da Companhia das termas, até nomeia o autor do frondoso parque onde se realiza a feira do Livro, o Horticultor Portuense Marques Loureiro.
Enfim, uma fugaz passagem pela Vizela do fim do século XIX, cheia de intensidade, magia, onde relembrei todo o património histórico que esta cidade possui, á espera de ser descoberto, mas que infelizmente respira um mofo intragável, na memória colectiva de quase todos os Vizelenses.
A feira do livro tem pouca afluência, os interstícios da nossa história também, palpita-me que enquanto as pessoas não contemplarem os plátanos que acolhem a Feira do Livro de Vizela, eles onde continuar a ser misteriosos e mágicos interstícios.
Palpita-me que os nossos mortos ilustres têm o segredo de uma possível revitalização económica do nosso concelho, talvez por via de muitos curiosos, que como eu, não se importariam de deixar cá o seu capital, em troca dos segredos da nossa história.
Palpita-me…
Assustam-me mais os vivos desta terra, do que os mortos.

terça-feira, maio 2


Caciquismo e Fraternidade

É curiosa a forma como funciona o nosso cérebro, esse bicho estranho alimenta-se de palavras para formar as imagens; os conceitos, a cor com que pintamos a realidade. Precisamos da palavra, como o pincel precisa da tinta para se fazer sentir na tela, as palavras a latejar na nossa psique, são a tinta do pincel que é a nossa imaginação, e que nos traça a forma das coisas que imergem do nosso pensamento. O conteúdo pode estar lá, mas sem a forma da palavra, o pensamento não atinge o seu significado total.
Pressupõem-se assim que um cérebro com um vocabulário mais reduzido, não será um cérebro estúpido, mas certamente será um pincel com dificuldades em se fazer sentir na tela da vida, o conteúdo estará lá, mas certamente sempre com traços grosseiros, em imagens mais abstractas, o que por si só não me concerne preocupação, gosto do abstraccionismo, gosto das pessoas simples.

A língua portuguesa é rica em palavras, é um família grande, cujos parentes não morrem, acumulam-se em anos de história.
São irmãos na forma de sinónimos, adjectivos que não deixam nada ao indescritível, paradoxos para as dicotomias da vida sobe a forma de antónimos, enfim…um sem fim de palavras!

Não me surpreende portanto, que todos os dias eu aprenda uma palavra nova, cujo o significado é similar a outra que eu já conhecia, contudo é a palavra mais exacta para um qualquer conceito mental que já na minha cabeça pairava, mas não tinha a tinta necessária para se fazer colorir na forma de pensamento concreto.

O caciquismo, a palavra já conhecia, nunca tinha pensado bem no seu significado, sabia que se relacionava com o acto dos padrinhos presentearem os seus afilhados com dádivas, coisa que remonta já ao império romano.
Ouvi também pela boca de pessoas mais antigas, que o caciquismo era também o que apelidava o que os representantes do partido facínola a nível regional, faziam aquando das pseudo-eleiçoes realizadas nos anos 60 em Portugal, ao andarem de porta em porta a entregar bacalhaus e garrafas e garrafas de vinho, numa compra directa de votos …Uma velha forma de apadrinhar também.

Apesar de eu já conceber esta ideia, como o acto de dar, ainda não conseguia perceber, onde se poderia inserir o caciquismo, que nos discursos de esquerda, representa a pedra angular de uma democracia dissimulada.
Parei então para pensar, ele deve estar algures, afinal o acto de dar ao próxima, constitui uma das mais fraternas formas de solidariedade que se institucionalizou no nosso século, não obstante os presentes envenenados e com intenção de retroactivos, a cavalo dado não se olha o dente, já se diz.

Comecei a reparar nas formas subtis que o acto de dar ao próximo, ou não tão próximo assim, assumiu nos últimos tempos, subtilezas que podem não ser reconhecidas com operações mentais macroscópicas. Digo mais, fiquei enternecido com tanta dádiva fraterna que se revelou á minha frente.
Ele desdobra-se em benesses institucionais, na forma de subsídios, de buracos tapados, de emprego desqualificado em quadros técnicos carentes de know-how, medalhas de reconhecimento oportuno. Uma distribuição, que se aparentemente se figurava aleatória, revela-se me agora cada vez mais cirúrgica e providencial para o bom funcionamento de uma democracia dissimulada.

O caciquismo é um animal atemporal, que se veste sobe as vestes mais incolores que se podem imaginar, que respira e se alimenta nos interstícios mais recônditos do poder.

Apraz me muito, como podem imaginar, que o acto de dar, sejam presentes envenenados, ou com intenção de retroactivos, pois, (A cavalo dado não se olha o dente), ainda seja o eco de uma sociedade caracteristicamente fraterna.